08.05.2020
Imunização através de infecção controlada por Covid-19 com risco mínimo
A despeito do esforço hercúleo feito e de toda infraestrutura de pesquisa existente, não há trégua ou vitória que se vislumbre no horizonte. Todos sabemos que serão muitos meses de luta.
Introdução: Desde o dia 11/03/2020, quando a OMS declarou a pandemia do Coronavírus, a humanidade, e mais criticamente a ciência médica, incorporada na pessoa dos profissionais de saúde, encaram um desafio nunca visto na história da medicina. Parafraseando muitos autores, líderes políticos e jornalistas, trata-se de uma guerra contra um inimigo invisível e pouco conhecido, a qual somos um misto de generais e a infantaria, e o campo de batalha, hospitais, clínicas ou quaisquer locais onde haja atividade médica. Passado pouco mais de 30 dias, uma quantidade assustadora de vidas de profissionais da saúde tem sido impiedosamente ceifada, em todo mundo, pelo Covid-19. A despeito do esforço hercúleo feito e de toda infraestrutura de pesquisa existente, não há trégua ou vitória que se vislumbre no horizonte. Todos sabemos que serão muitos meses de luta, com um custo social e econômico gigantesco.
Background: Se não há perspectiva de vitória rápida, muito aprendemos nesse curto espaço de tempo, graças às facilidades da tecnologia de informação, e a disposição de todos de partilhar seu conhecimento e experiência com o maior número de colegas possível. Com isso, passamos a respeitar a agressividade desse agente viral, que mostra uma contundência patológica surpreendente, e causa uma doença de complexidade que tem intrigado à toda comunidade médica. Ao mesmo tempo vemos que, para enfrentar tal inimigo, é preciso mudar conceitos, criar vias rápidas (fast tracks), eliminar resistências, e inovar. Com grande rapidez, por exemplo, a telemedicina (que enfrentava forte resistência de setores conservadores) foi aceita mundialmente, já assumindo o papel de principal elemento de contato entre médico e paciente durante o ambiente de pandemia. No mesmo sentido o FDA e outras agências reguladoras têm aprovado centenas de estudos clínicos experimentais com as mais diversas drogas, exibindo uma flexibilidade nunca vista antes.
Entretanto, precisamos assumir o fato de que ainda vai haver muita falta de informação epidemiológica segura (os números oficiais de infectados, de curados, e mesmo o número de mortos todos são absolutamente imprecisos), e existem muito mais perguntas do que certezas. Por isso, temos dificuldade em dimensionar qual deve ser, ainda, a percentagem de pessoas não imunes ao vírus. Mas na melhor das expectativas, eu pessoalmente estimo que algo em torno a 10 a 15% da população mundial disporá de imunidade ao Covid-19, quando o número de casos reduzir como resposta às medidas de afastamento social implementadas. Faltará muito a caminhar para um percentual seguro de imunizados, que impeça que a pandemia reapareça. Como parâmetro, vale relembrar o ocorrido na pandemia da gripe espanhola, que foi também contida com medidas de afastamento social, sofrendo uma redução significativa de casos, para depois voltar em novo surto pandêmico devastador. Por fim, cabe um último comentário: aproxima-se o inverno no hemisfério sul e uma breve examinada na distribuição dos casos no mundo permite visualizar a preferência do microorganismo pelo clima frio. Isso, conjuntamente com a postura pouco cuidadosa do executivo do Brasil, justo na entrada da estação, aponta para uma tragédia de proporções nunca vistas.