Muito se fala sobre fitohormônios atualmente, mas é possível perceber que ainda existe bastante desinformação, seja no meio médico ou leigo. Vale, portanto, fazer uma pequena retrospectiva sobre o assunto.A primeira evidência que elementos da alimentação poderiam ter alguma ação hormonal foi feita num estudo epidemiológico realizado no Japão, quando evidenciou-se que um grupo de mulheres que tinham hábitos de vida tradicionais, possuíam uma incidência muito baixa de síndrome da menopausa. A primeira reação dos pesquisadores foi atribuir esse resultado a fatores raciais. Entretanto, numa segunda pesquisa feita com mulheres japonesas com hábitos de vida ocidentais, revelou uma incidência de sintomas da menopausa semelhante aos observados no ocidente. Ou seja, a baixa incidência dos sintomas da menopausa deveria estar associada a algum hábito de vida.
Análises regressivas feitas com os dados da pesquisa mostraram que um dos aspectos mais diferenciados das mulheres que não tinham sintomas da menopausa, era ingerir quantidades significativas de soja em produtos de soja (em geral mais de 100g) diariamente. Esse resultado fez vários pesquisadores buscarem na soja uma substância que pudesse ter efeito hormonal.
Assim foram isoladas substâncias chamadas isoflavonas, que, hoje em dia, têm sido propostas no tratamento da menopausa. Essas substâncias têm capacidade de se ligar a receptores estrogênicos, estimulando-os – o que explicaria seu efeito.
Entretanto, com o avanço das pesquisas com plantas medicinais, foi sendo descoberto que a soja não era a única fonte de substâncias com capacidade de atividade hormonal. Um inhame, nativo da América do Norte, usado pelos índios no tratamento de problemas femininos, revelou conter uma saponina chamada diogenina que exibe efeito semelhante à progesterona. Durante muito tempo esse inhame foi usado como base para a síntese de hormônios convencionais pela industria farmacêutica.
Sem as ondas de calor
Da linhaça isolou-se outro grupo de substâncias chamadas de lignanas com o mesmo tipo e ação. Foi igualmente pesquisada uma planta, conhecida nos Estados Unidos como “black cohosh” (cimicífuga), que os índios usavam no tratamento de problemas femininos. Essa planta se revelou efetiva em combater especificamente as ondas de calor que ocorrem na menopausa. Existem indícios de que muitas outras plantas medicinais ou mesmo vegetais usados na alimentação possuam substâncias com essas características.
A existência de substâncias com atividade hormonal em tantas plantas deu origem ao termo “fitohormônios” (que significa hormônios de plantas) e têm sido usadas como um tratamento alternativo para síndrome da menopausa. Contudo, na minha experiência, para obter-se resultados efetivos, é preciso associar várias plantas com atividade hormonal de uma forma inteligente. O uso das isoflavonas da soja isoladamente não resolve a maioria dos casos.
Reduz incidência de câncer
As isoflavonas da soja, e em particular a genisteína, têm sido intensamente estudadas e não existem mais quaisquer dúvidas sobre seu potencial de atuar como fitohormônio. Por conta disso, vejo muitos colegas médicos contra-indicando a ingestão de soja e derivados em mulheres que apresentaram câncer de mama. Entretanto, o que os estudos epidemiológicos mostram é que as populações que ingerem grandes quantidade de soja e produtos da soja, possuem uma baixa incidência de câncer de mama e de próstata.
Além disso, as pesquisas com as isoflavonas mostrataram que elas estimulam os receptores estrogênicos de forma assimétrica, funcionando como bloqueadores no tipo de receptor que induz a multiplicação celular – justamente o que pode ser perigoso para o câncer. Ao bloquear esses receptores as isoflavonas da soja atuam protegendo o organismo do câncer, o que está coerente com os resultados dos estudos epidemiológicos.
Alguns ginecologistas já têm prescrito fitohormônios como primeira opção para mulheres com síndrome da menopausa, por entender que esse tipo de tratamento oferece menor risco futuro da câncer ginecológico. Esse grupo de ginecologistas ainda é minoritário, mas vem aumentando a cada dia. Os fitohormônios ainda tem aplicação no tratamento de tensão pré-menstrual e outros problemas ginecológicos, porém, há necessidade de mais pesquisa para validar o seu uso nesses problemas de saúde.
O clínico geral e escritor Alex Botsaris é autor de onze livros, entre eles Doce Vôo da Juventude, sobre saúde e rejuvenescimento. É consultor da Pierre Alexander Cosméticos.