Uma fragrância para cada ocasião!
A maior parte das pessoas pensa que perfumar-se é um capricho, um luxo ou é necessário apenas para a sedução. Esse pensamento resulta de um grande desconhecimento da profunda influência que os odores possuem sobre o cérebro humano. Aromas são importantes em todos os aspectos da nossa vida e, se entendermos melhor seu funcionamento, podemos utilizá-los a nosso favor.
O nervo olfativo, que conduz as informações geradas pelos aromas, vai para o córtex olfativo, no rinencéfalo - uma das regiões mais antigas em termos evolutivos do cérebro humano. Essa área fica ao lado do córtex frontal, região que processa parte das emoções e do comportamento social das pessoas. Por isso, ela tem forte influência sobre esses aspectos. O estímulo do córtex olfativo pode afetar o humor, a libido, a capacidade de concentração, gerar estados de sedação ou alerta, aumentar ou reduzir a agressividade, trazer lembranças esquecidas à consciência e alterar o julgamento da realidade percebida.
Nos primeiros mamíferos, o olfato foi o sentido mais desenvolvido, o que contribuiu para que ele fosse se transformando num grande modulador do comportamento. Esse sentido desempenha um papel mais importante que os outros na maioria dos mamíferos, influenciando nos dois principais desafios para a preservação da espécie: a alimentação e a modulação do comportamento sexual, para a reprodução. Assim, ele se manteve como o sentido que mais atua no comportamento até a nossa espécie Homo sapiens.
Como funciona
Quando os estímulos dos odores chegam ao córtex olfativo, no rinecéfalo, eles geram áreas de facilitação e de inibição - o que significa que os estímulos se concentram em espaços específicos do córtex frontal, modulando as respostas do cérebro e nosso comportamento. Odores diferentes causam respostas completamente distintas, considerando as áreas onde há maior ou menor atividade neuronal e que por sua vez, geram as respostas específicas. Isso significa que, se você escolher o perfume adequado para a sua entrevista de emprego ou para o seu primeiro encontro amoroso, vai aumentar suas chances de êxito. Caso seu odor seja muito inadequado, por outro lado, a probabilidade de insucesso vai ser muito alta.
Aromaterapia e aromacologia
A grande influência dos odores na função cerebral foi percebida pelos povos antigos e gerou uma medicina tradicional: a aromaterapia, que se propõe a tratar doenças usando aromas ativos. Na modernidade foi criada uma nova ciência, a aromacologia, que estuda os efeitos dos aromas usando as ferramentas da experimentação moderna. Ambas chegam a conclusões parecidas e muito dos resultados atuais confirmam as informações tradicionais. O perfume gera respostas tanto na própria pessoa, como nos indivíduos que se aproximam do usuário da fragrância.
Caminhos olfativos
Um dos ensinamentos tradicionais que é incorporado pela indústria de perfumaria são os chamados “caminhos olfativos”. Trata-se de grupos de aromas que possuem afinidade olfativa entre si, aos quais podemos atribuir alguns efeitos sobre o comportamento humano. Os principais caminhos olfativos utilizados na perfumaria atual são: amadeirado, floral, frutal, herbal, cítrico, doce, refrescante, morno, picante, aromático, chipre (entorpecente) e amiscarado.
Os perfumes amadeirados vêm de essências resinosas, como o incenso e o breu. Essas são mais discretas e ideais para situações formais, porque reforçam o conceito de seriedade. É o perfume ideal para ser usado numa entrevista de emprego, pois passa ideia de responsabilidade. Recomendo ainda, usar esses perfumes amadeirados em provas e concursos, pois eles também estimulam a capacidade de concentração.
As fragrâncias florais são mais femininas, denotando delicadeza, beleza e leveza. Elas originam-se de óleos essenciais de flores, como a rosa e o jasmim, e são adequadas para cerimônias como batizados e casamentos, pois trazem alegria e relaxamento. Eu sugiro o seu uso em mulheres que trabalham com vendas, corretoras e imóveis, ou em outras atividade que envolvam dinheiro. As essências florais facilitam o despertar do impulso de compra ou gastos.
Os perfumes herbais trazem uma forte experiência sensorial de mato e natureza e são extraídos de folhas aromáticas. Eles não induzem ou caracterizam mais esse ou aquele sexo, e são adequados para situações bastante informais, ou ainda quando se pretende criar um clima que remeta à natureza e ao conceito de natural. Um aroma herbal é interessante para pessoas que trabalham com produtos orgânicos ou naturais. Recomendo também para aqueles que estão fazendo desintoxicação, ou ainda que desejam perder peso.
Os perfumes cítricos são mais masculinos e estão entre os que possuem maior potencial afrodisíaco. Eles correspondem, no campo feminino, aos aromas almiscarados, que se originam das glândulas do umbigo do veado almiscareiro. São essencias excitantes, ideais para atrair e seduzir o sexo oposto. Em termos terapêuticos, são perfumes indicados em quadros de desânimo ou depressão, ou em situações em que precisamos melhorar a autoestima.
Dentre as fragrâncias amornantes, o gengibre e a canela são as mais conhecidas. Elas são notas olfativas tônicas, mas pouco usadas como as principais na composição de aromas. Perfumes com notas amornantes fortes são ideais para estimular o pensamento e a memória, indicados em quadros da fadiga mental de depressão. Já as fragrâncias picantes, como as derivadas das pimentas, são notas que potencializam os perfumes com objetivo de estimular a libido e a atratividade sexual. Na aromaterapia, elas dispersam as energias negativas e são boas para melhorar a imunidade e as defesas do organismo.
As fragrâncias entorpecentes vêm de plantas, como o pachouli e a papoula. Seu efeito é estimular os sonhos e a imaginação humana. São ideais para pessoas que trabalham com artes ou para um ator usar durante uma encenação. Em termos de terapêutica, são indicadas para os ansiosos e os que possuem transtornos de personalidade.
Alex Botsaris é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializado em doenças infecciosas pelo Hospital Claude Bernard, de Paris, e em acupuntura e medicina chinesa pela Sociedade Internacional de Acupuntura, na França, e pela Universidade de Pequim, na China. É ex-presidente do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais (IBPM), ex-consultor de saúde e biodiversidade da Natura e um dos maiores conhecedores de plantas medicinais. Autor de livros como: “O Complexo de Atlas“, “Fórmulas Mágicas” e “Medicina Ecológica“.